Relações entre Teologia da Retribuição e Teologia da Prosperidade na Religiosidade Pentecostal Brasileira

Por Roger Mattos

A Teologia da Prosperidade tem representado uma ameaça para o movimento pentecostal brasileiro. Com um viés nocivo, essa teologia — oriunda da Teologia da Retribuição — tem contribuído para a deturpação da verdadeira espiritualidade e dos valores intrínsecos do pentecostalismo clássico.

A proposta apresentada por essa teologia baseia-se na relação de causa e efeito, segundo a qual toda retribuição ocorre somente nesta vida. Ademais, essa visão tem distorcido a verdadeira essência do pentecostalismo, que possui um caráter escatológico extremamente marcante, e conduz o crente a uma vida de santidade e separação do mundo, com vistas ao galardão eterno na vida porvir.

Além disso, tem-se cristalizado um paradigma de espiritualidade frágil e imatura, movida pela lógica da barganha. A partir dessa perspectiva teológica, o modus operandi gira em torno de um materialismo exacerbado, no qual os “fiéis” contribuem cada vez mais, a fim de que suas posses se multipliquem, engendrando um ciclo vicioso que desemboca em avareza e ganância.

Desse modo, percebe-se que o evangelho é reduzido ao crescimento neste mundo, e que a bênção de Deus passa a ser medida de acordo com a prosperidade do indivíduo; do contrário, a pobreza é interpretada como ausência de Deus. A cruz de Cristo é reduzida a uma “graça barata”, conforme a denominou o teólogo Dietrich Bonhoeffer; a essência do evangelho é adulterada, e a missão do cristão de amparar os menos favorecidos é substituída pela busca por supremacia e poder.

A ramificação que surge desse desvio doutrinário denomina-se neopentecostalismo. Essa vertente, com forte influência norte-americana, tem se infiltrado no meio pentecostal brasileiro e crescido de forma alarmante. Com ênfase no “aqui e agora” e no acúmulo de posses, pouco tem em comum com o pentecostalismo clássico, exceto o nome — este último deposita toda a sua esperança na eternidade. A Bíblia não condena a riqueza, mas sim o amor a ela:

Porque o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males; e alguns, nessa cobiça, se desviaram da fé e atormentaram a si mesmos com muitas dores (1Tm 6.10 – NAA).

Assim, a prosperidade deve ser usada em prol do Reino de Deus, como uma represa cujas águas nunca ficam paradas, evitando o acúmulo em um lugar só.

Em suma, o sacrifício de Cristo é o presente mais valioso que a humanidade pode receber; por meio de Seu sangue, os pecados são perdoados e vidas são salvas. A graça de Deus é demasiadamente rica para ser barateada, como tem ocorrido no meio neopentecostal brasileiro. Destarte, o maior tesouro não está neste mundo, pois onde estiver o coração do ser humano, ali estará o seu tesouro. O prêmio que o crente em Jesus deve almejar é o galardão eterno, que representa a verdadeira prosperidade.

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