Por Roger Mattos
Os métodos de leitura da Bíblia apresentam formas diferenciadas de interpretar as Escrituras à luz de uma perspectiva objetiva. A grande maioria dos estudos com esse
viés utiliza o método histórico-crítico.
No meio acadêmico, têm surgido alguns métodos hermenêuticos que levam ao texto bíblico pressupostos de uma determinada ideologia, como é o caso da leitura crítica psicológica, da crítica feminista e da crítica sociológica.
Fortemente influenciados por Friedrich Schleiermacher, considerado o pai da hermenêutica moderna, esses métodos buscam compreender o contexto histórico-cultural e a subjetividade do autor, a fim de se aproximarem de seu pensamento original.
Não obstante, a leitura crítica busca uma interpretação a partir da realidade em que se insere, com o intuito de atualizar a mensagem bíblica de acordo com a tendência do método utilizado. Não se descarta o método de acesso ao pensamento do autor; porém, este não é o objetivo final da leitura.
A partir de uma leitura crítica sociológica, por exemplo, percebe-se que a ótica de toda a Escritura é entender o contexto social em seus aspectos econômicos, políticos e ideológicos, para extrair lições que atendam às demandas de determinada classe social. Ou seja, a interpretação bíblica é realizada segundo a realidade do leitor.
O evangelho de Lucas é um exemplo crucial da utilização do método sociológico, tendo em vista que é considerado o \”Evangelho dos pobres\”. Nele, a ênfase é a mensagem de
Jesus em favor dos menos favorecidos e do juízo contra os poderosos e ricos deste mundo. A Teologia da Libertação, amplamente usada no contexto latino-americano,
explora a temática da desigualdade social, defende o direito dos pobres e propõe um movimento igualitário e solidário.
Essa visão, entretanto, não tem uma aceitação plausível no meio evangélico e, muitas vezes, é confundida com o comunismo, tanto em sua ideologia quanto em sua política.
Ademais, a Bíblia é muito mais do que um simples manual de sociologia e de ativismo; ela é a Palavra de Deus. Embora contenha ensinamentos de igualdade social e caridade para com os marginalizados, a Bíblia não deve — e não pode — ser reduzida ao seu contexto social apenas.
Enfim, existem muitas formas de ler a Palavra de Deus e extrair lições dela que favoreçam determinadas classes ideológicas ou políticas. Contudo, nenhuma delas é completa em si mesma. Por mais que a Bíblia apresente mensagens que iluminem uma determinada classe social, ela é, sobretudo, a Palavra de Deus: as boas-novas da salvação em Cristo Jesus.