Dimensão Teológica, Antropológica e Cosmológica no Livro de Salmos

Por Roger Mattos

O livro de Salmos é uma das obras mais sublimes de toda a Escritura Sagrada. Nele, afloram as mais belas e intensas expressões do coração, exteriorizando os sentimentos em forma poética — seja para louvor, imprecação, súplicas ou até mesmo ensinamentos.

Martinho Lutero afirmou que o livro dos Salmos “não coloca diante de nós somente a palavra dos santos, (…) mas também nos desvenda o seu coração e o tesouro íntimo de suas almas”, no qual aprendemos a “falar com seriedade em meio a todos os tipos de vendavais”. Além disso, disse que o Saltério “faz promessa tão clara acerca da morte e ressurreição de Cristo e prefigura o seu Reino, condição e essência de toda a cristandade – e isso de tal modo que bem poderia ser chamado de uma ‘pequena Bíblia’”. 1

Há diversos fatores que permeiam a temática teológica dos Salmos; contudo, também estão interligados os aspectos antropológico e cosmológico, que contribuem para a riqueza de seu conteúdo. As reflexões vão desde o período de vazio — o nada — passando pela criação e sua plenitude, até questões futuras, como o destino das almas e, principalmente, quem Deus é.

Na dimensão teológica, medita-se sobre Deus e Sua morada: a dimensão celestial. Por outro lado, também se reflete sobre o mundo dos mortos, o abismo — lugar onde há ausência de Deus, mas que, ainda assim, está sob Seu controle. Essa seria a dimensão infernal. Em relação à dimensão celestial, são apresentados os simbolismos do céu e da transcendência de Deus, com base nas experiências humanas e em seu mundo, muitas vezes reconhecendo-O como figura paterna.

A partir da perspectiva antropológica do livro de Salmos, o homem e toda a natureza são descritos em perfeita harmonia. Toda a criação e suas espécies — animal e vegetal — são apresentadas sob a regência de Deus, o Todo-Poderoso. D’Ele veio a criação, e é Ele quem dá ordens e impõe limites a tudo e a todos. Ademais, o propósito inicial era que o homem vivesse em plena harmonia com tudo que o cerca; no entanto, com a entrada do pecado no mundo, a desordem se alastrou.

Por fim, a dimensão cosmológica é representada pelo lugar que antecede todas as coisas: o nada, o vazio. Na concepção judaica, o “nada” não é entendido como um conceito abstrato; antes, é a antítese do que há de melhor na criação. É representado por monstros e trevas (ausência de luz). No cosmo, encontra-se o mistério da ordem natural de todas as coisas, como as estações e o ciclo da vida — enfim, aquilo que o homem não pode controlar.

Em síntese, conclui-se que todos os aspectos somados contribuem para construir uma vida melhor no momento presente e, portanto, garantir um bom lugar para habitar: as mansões celestiais. Por meio do livro de Salmos, aprende-se a fazer da oração e da adoração um estilo de vida, que eleva o homem acima dos padrões deste mundo, devido à presença constante de Deus em sua existência.


1 cf. “Prefácio ao Livro dos Salmos 1545”, “Sumários sobre os Salmos e razões da tradução”, “Trabalhos do Frei Martinho Lutero nos Salmos apresentados aos estudantes de teologia de Wittenberg” e “Os sete Salmos de Penitência”, Martinho Lutero – Obras selecionadas, v. 8: interpretação bíblica, princípios (São Leopoldo: Sinodal & Porto Alegre: Concórdia, 2003), p. 33-37, 224-233, 331-492, 493-548.

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