Por Roger Mattos
O corpo humano tem sido um tema de reflexão ao longo dos séculos, desde os tempos remotos até a atualidade. Nunca houve um consenso sobre a definição desse elemento. Dessa forma, cada cultura possui uma interpretação específica do que é o corpo.
Segundo a cultura greco-latina, o corpo é uma espécie de prisão da alma, enquanto a alma é o lugar ao qual pertencem as virtudes, ou seja, o mundo espiritual. Essa perspectiva aborda o ser humano de forma dualista, evidenciando uma luta entre ambas as partes, o que torna a visão antropológica um tanto quanto pessimista.
O maior expoente dessa corrente foi o filósofo Platão, que influenciou grande parte da cultura ocidental — até mesmo teólogos renomados, como Agostinho de Hipona. Segundo relata o Dr. Fernando Albano:
Para Platão o corpo e alma se encontram em oposição um ao outro; a alma é a fonte de toda moção. Procedendo de Deus, a alma não estaria sujeita a perecer, porque é imortal. O corpo, portanto, era apenas a \”prisão\” da alma.¹
Em contrapartida, há a concepção de corpo hebraica, que adota uma visão unitária. Segundo a visão judaica, o corpo não é mau — ele é integral: corpo, alma e espírito. Sobre o tema, Albano discorre:
De modo geral, a Bíblia apresenta uma visão unitária de ser humano, embora de maneira não sistemática. […] O Antigo Testamento compreende o ser humano \”holisticamente\” e não faz divisões, entre corpo mortal e alma imortal, ou entre corpo e espírito.²
Vale ressaltar que a visão platônica influenciou boa parte da leitura ontológica helenística neotestamentária e até mesmo a antropologia pentecostal. Esta última enxerga o corpo como algo a ser vencido por meio de práticas como \”mortificar a carne\” através de jejuns e oração, por exemplo. Entretanto, o mesmo corpo é entendido como um veículo de adoração litúrgica, manifestando emoções ao dançar, levantar as mãos, bater palmas, entre outras formas de expressão.
Conclui-se que, embora existam diversas concepções sobre o que é, de fato, o corpo humano em diferentes culturas, o ser humano é formado por corpo, alma e espírito, que se complementam e cooperam entre si. Sendo assim, o homem deve ser entendido como uma unidade — e não como um fragmento. Por isso, é fundamental cuidar bem do ser humano como um todo.
¹ ALBANO, Fernando. Dualismo corpo/alma na Teologia Pentecostal. Tese de Mestrado — São Leopoldo: EST/PPG, 2010, p. 21.
² Ibidem, p. 65.