As Implicações da Concepção Holística do Ser Humano nas Práticas de Espiritualidade

Por Roger Mattos

A antropologia teológica apresenta diferentes concepções em referência à divisão das partes que constituem o ser humano. Sendo elas na forma de dualismo ou tricotomia, resultam sempre em um ideal de que o ser é tanto material quanto imaterial.

Contudo, independentemente de qual concepção seja adotada, é inegável a análise a partir de uma ótica do ser holístico, em que as partes formam uma unidade, e não uma fração com funções distintas. Elas cooperam para a uniformidade do indivíduo, de modo que ele tenha vida através do exercício das partes em equidade.

Dessa forma, a maneira como o homem acata essa ideia implicará na forma e na qualidade de suas disciplinas e práticas espirituais. Existe uma espécie de depreciação do corpo em detrimento das qualidades de natureza espiritual; porém, à luz das Sagradas Escrituras, esse procedimento não é plausível.

Com base no Antigo Testamento, há evidências de que o corpo é tão importante quanto o espírito, pois foi o próprio Deus quem o criou.

Então, o Senhor Deus formou o homem do pó da terra e soprou-lhe nas narinas o fôlego de vida, e o ser humano se tornou um ser vivente (Gn 2.7 – NVI).

É evidente que a matéria é de extrema relevância no ato da criação, pois tudo o que Deus decretou na criação, ao final, Ele afirmou que era bom.

No período neotestamentário, por exemplo, o apóstolo Paulo faz uma exortação em que o corpo (matéria) está em igualdade com o espírito na função do culto a Deus; ambas se complementam.

Exorto-vos, portanto, irmãos, pela misericórdia de Deus, a que ofereçais vossos corpos como sacrifício vivo, santo e agradável a Deus: este é o vosso culto espiritual (Rm 12.1 – Bíblia de Jerusalém).

Ora, sabe-se que o sentido de corpo (soma) nesta passagem é o de uma atitude de corporeidade; porém, para que essa atitude se manifeste, é necessário antes passar pela experiência do corpo material.

Destarte, a forma mais coerente de agradar ao Criador é cuidar do corpo, considerando-o de suma importância, juntamente com a alma e o espírito. Durante grande parte da história, o corpo foi visto como a prisão da alma, uma concepção oriunda da antropologia grega. Entretanto, essa maneira de menosprezar o corpo é, de certo modo, prejudicial e contrária ao ensinamento bíblico.

Enfim, entende-se que é através da concepção holística do ser humano que se exerce uma espiritualidade plena e qualitativa. Sendo assim, o homem é uma unidade integral, e não fracionada, o que facilita a compreensão de que todas as partes são importantes e cooperam para o bem de sua vida material e espiritual.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *